Recentemente, uma pessoa conhecida
estava desolada. Ela fora impedida de participar em um ministério em sua
igreja, porque não era casada. Na realidade, essa moça, que chamarei
pelo nome fictício de Joana, vive há alguns anos maritalmente com um
homem. Vive com ele, mas não é casada, nem no civil, nem no religioso.
Um dos líderes de onde ela congrega
chegou a dizer que viu em oração que havia uma “sujeira enorme” na vida
dela, um “pecado” muito grande por causa da forma como ela estava
vivendo. E como esse rapaz, que alegou revelação profética para dizer
isso, tantas outras pessoas que crêem na Bíblia pensam assim: Sem um
casamento religioso, a pessoa está vivendo em pecado.
O curioso, todavia, é que a idéia da
exigência de um “casamento religioso” vem da tradição católica, que
considera o casamento como um “sacramento”, que exige a presença de um
ministro católico. É esse ministro que tem a “autoridade” para dizer:
“Eu vos declaro marido e mulher.”
Mas aonde, eu desafio o caro leitor a
responder, a Bíblia dá autoridade a algum ministro religioso para
declarar que um casal se torna marido e mulher? Certamente não no “tudo
que ligares na terra será ligado no céu”, primeiro porque o próprio
ministro diz que o casamento é para esta vida terrena (logo, não está
ligado no céu), e segundo porque o contexto dessa passagem não tem nada a
ver com casamento.
E como era nos tempos bíblicos? As
pessoas até faziam festas nupciais, que a Bíblia menciona casualmente,
como meros costumes, sem especificar um padrão. Porém, não encontramos
nenhum relato nas Escrituras de uma cerimônia religiosa. E como alguém
se casava? Basicamente, a trazia para viver consigo, como sua mulher. E
só. Nem mesmo a festa era indispensável, e a Bíblia dá a entender que
ela era cultural. Temos casos de “casamentos relâmpagos” onde
basicamente o homem a mulher passaram a viver juntos, maritalmente:
“E
disse ao servo: Quem é aquele homem que vem pelo campo ao nosso
encontro? E o servo disse: Este é meu senhor. Então tomou ela o véu e
cobriu-se. E o servo contou a Yitschak todas as coisas que fizera. E
Yitschak trouxe-a para a tenda de sua mãe Sarah, e tomou a Rivkah, e
foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim Yitschak foi consolado depois da
morte de sua mãe.” (Bereshit/Gênesis 24:65-67)
Aqui vemos como foi simples. Yitschak
(Isaque) viu Rivkah (Rebeca). Ela se cobriu com véu, como era costume
das noivas, ele a tomou e a desposou imediatamente. Onde estava o
ministro para declarar o “sacramento”? Isso não existe nas Escrituras, e
constitui uma afronta à revelação de Elohim, pois é o homem mais uma
vez se arvorando de uma autoridade que Elohim não lhe concedeu.
Pergunto, portanto, que espírito, se
algum, deu essa “revelação” ao rapaz, para que considere pecado a
não-realização de algo que a Bíblia jamais exigiu?
Que o leitor não me entenda mal: Eu não
sou contrário a uma cerimônia religiosa, caso seja do desejo das pessoas
em questão. Não acho ruim o noivo e a noiva organizarem uma cerimônia e
pedirem a bênção de Elohim sobre seu casamento. Eu mesmo optei por algo
assim quando me casei. Porém, isso é apenas algo para atender a uma
convenção social, ou uma aspiração pessoal dos noivos, e não o casamento
em si.
Biblicamente, ninguém precisa (aliás,
nem tem o direito de) sancionar um casamento: ele ocorre quando o homem e
a mulher começam uma vida marital juntos. Isso basta, para que pelas
Escrituras sejam considerados marido e mulher. Isso, e nada mais. E se a
Bíblia nada mais impõe, quem é o homem para achar que pode exigir algo
que Elohim nunca exigiu? Mas essas exigências extra-bíblicas, que só dão
aspecto de santidade e nada agregam à vida espiritual – pelo contrário –
só violam as Escrituras por acrescentar a elas, são justamente o cerne
da religiosidade.
Não à toa Yeshua disse: “E,
desde os dias de Yochanan, o Imersor, até agora, se faz violência ao
reino dos céus, e pela força se apoderam dele.” (Matitiyahu/Mateus
11:12)
A violência ao Reino, a tentativa de
tomá-lo à força, é exatamente isso: É o homem achando que, pelos
próprios esforços de religiosidade, é capaz de forçar a revelação de
Elohim a descer dos céus. E ata-se fardos pesados sobre o povo, que cada
vez se sente mais e mais culpado por não servir aos mandos e desmandos
extra-bíblicos de seus líderes. Por isso, a profecia se calou.
E qual foi a resposta que Mashiach apresentou a isso?
“Vinde
a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde
de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu
jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Matitiyahu/Mateus 11:28-29)
O jugo leve do Mashiach nada mais é do
que a pureza das Escrituras. As Escrituras que apontam para Ele, que
falam do Seu perdão, do Seu amor, e que nos ensinam o que realmente
Elohim exige de nós, em oposição ao que os homens impõem.
Portanto, à Joana, posso dizer: Não,
você não está em pecado. Pecado é a transgressão da Torá (1 Jo. 3:4). E a
Torá de Elohim jamais determinou tal necessidade de uma “cerimônia
religiosa” para “oficializar o sacramento.” Essa exigência vem de Roma, e
não do Reino dos Céus. Pelo contrário, quem está em pecado é quem impõe
algo sobre o povo, que a Bíblia não diz, e quem profetiza de forma
leviana em Nome de Elohim, e fala contra as próprias Escrituras.
Se alguém deseja fazer uma festa de
casamento, é livre para fazê-lo (as Escrituras têm vários exemplos
delas.) Se quer, além da festa, fazer uma cerimônia religiosa, também é
livre para fazê-lo – desde que entenda que não existe sanção do
ministro, e que ninguém tem autoridade para casar ninguém, pois o
casamento pertence ao casal. Se isso for compreendido, é até saudável
uma cerimônia pedindo a bênção de Elohim ao novo casal, ou agradecendo
pela oportunidade de estarem juntos. Porém, se alguém deseja
simplesmente desposar outrém passando a viver junto, que não seja
julgado, pois que direito temos de condenar algo que a Biblia jamais
condenou? Elohim poderia ter instituído tal coisa, mas não o fez. Porque
para Elohim, o casamento é um compromisso entre o casal.
No Lugar da Religiosidade, a Reponsabilidade Pessoal
Porém, existe um outro lado para essa moeda. A liberdade no Mashiach também traz responsabilidade.
E essa é a responsabilidade que existe:
Se alguém vive com outrém maritalmente, biblicamente, está casado. E tem
todos os deveres e responsabilidades que a Bíblia coloca sobre o
casamento. Não pode, inclusive, divorciar-se salvo nas condições
bíblicas (em nosos vídeo da série “Conhecendo o Messias”, falamos sobre
isso.)
Com Elohim, não existe “test drive” nem
jeitinho. E não é a ausência da palavra de um ministro que deixa de dar
legitimidade ao casamento. Portanto, é coisa muito séria.
“Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” (Bereshit/Gênesis 2:24)
Se alguém deseja viver maritalmente com
outrém, e construir uma vida em comum, saiba que pelas Escrituras, está
se casando perante Elohim. Em termos bem francos: Se você é juntado,
amaziado, amigado, mora junto, ou tem qualquer outro tipo de arranjo do
gênero, pode fazer seu chá de panela, e receber os parabéns, pois você
já está casado, e tem todas as responsabilidades do casamento,
biblicamente. Com festa, ou sem festa. Com cerimônia religiosa, ou sem
ela. Não importa. A Bíblia é bastante clara.
O jugo de Yeshua é leve, porém a lição
que devemos aprender, quando somos libertos da religiosidade, é que cada
um tem responsabilidade perante Elohim sobre como vive a sua vida,
tendo ciência da Sua revelação bíblica. E não podemos nos esconder atrás
de preceitos humanos.
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