quarta-feira, 20 de junho de 2012

Eu vos declaro… o que o Eterno não declarou!

Recentemente, uma pessoa conhecida estava desolada. Ela fora impedida de participar em um ministério em sua igreja, porque não era casada. Na realidade, essa moça, que chamarei pelo nome fictício de Joana, vive há alguns anos maritalmente com um homem. Vive com ele, mas não é casada, nem no civil, nem no religioso.
Um dos líderes de onde ela congrega chegou a dizer que viu em oração que havia uma “sujeira enorme” na vida dela, um “pecado” muito grande por causa da forma como ela estava vivendo. E como esse rapaz, que alegou revelação profética para dizer isso, tantas outras pessoas que crêem na Bíblia pensam assim: Sem um casamento religioso, a pessoa está vivendo em pecado.
O curioso, todavia, é que a idéia da exigência de um “casamento religioso” vem da tradição católica, que considera o casamento como um “sacramento”, que exige a presença de um ministro católico. É esse ministro que tem a “autoridade” para dizer: “Eu vos declaro marido e mulher.”
Mas aonde, eu desafio o caro leitor a responder, a Bíblia dá autoridade a algum ministro religioso para declarar que um casal se torna marido e mulher? Certamente não no “tudo que ligares na terra será ligado no céu”, primeiro porque o próprio ministro diz que o casamento é para esta vida terrena (logo, não está ligado no céu), e segundo porque o contexto dessa passagem não tem nada a ver com casamento.
E como era nos tempos bíblicos? As pessoas até faziam festas nupciais, que a Bíblia menciona casualmente, como meros costumes, sem especificar um padrão. Porém, não encontramos nenhum relato nas Escrituras de uma cerimônia religiosa. E como alguém se casava? Basicamente, a trazia para viver consigo, como sua mulher. E só. Nem mesmo a festa era indispensável, e a Bíblia dá a entender que ela era cultural. Temos casos de “casamentos relâmpagos” onde basicamente o homem a mulher passaram a viver juntos, maritalmente:
“E disse ao servo: Quem é aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro? E o servo disse: Este é meu senhor. Então tomou ela o véu e cobriu-se. E o servo contou a Yitschak todas as coisas que fizera. E Yitschak trouxe-a para a tenda de sua mãe Sarah, e tomou a Rivkah, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim Yitschak foi consolado depois da morte de sua mãe.” (Bereshit/Gênesis 24:65-67)
Aqui vemos como foi simples. Yitschak (Isaque) viu Rivkah (Rebeca). Ela se cobriu com véu, como era costume das noivas, ele a tomou e a desposou imediatamente. Onde estava o ministro para declarar o “sacramento”? Isso não existe nas Escrituras, e constitui uma afronta à revelação de Elohim, pois é o homem mais uma vez se arvorando de uma autoridade que Elohim não lhe concedeu.
Pergunto, portanto, que espírito, se algum, deu essa “revelação” ao rapaz, para que considere pecado a não-realização de algo que a Bíblia jamais exigiu?
Que o leitor não me entenda mal: Eu não sou contrário a uma cerimônia religiosa, caso seja do desejo das pessoas em questão. Não acho ruim o noivo e a noiva organizarem uma cerimônia e pedirem a bênção de Elohim sobre seu casamento. Eu mesmo optei por algo assim quando me casei. Porém, isso é apenas algo para atender a uma convenção social, ou uma aspiração pessoal dos noivos, e não o casamento em si.
Biblicamente, ninguém precisa (aliás, nem tem o direito de) sancionar um casamento: ele ocorre quando o homem e a mulher começam uma vida marital juntos. Isso basta, para que pelas Escrituras sejam considerados marido e mulher. Isso, e nada mais. E se a Bíblia nada mais impõe, quem é o homem para achar que pode exigir algo que Elohim nunca exigiu? Mas essas exigências extra-bíblicas, que só dão aspecto de santidade e nada agregam à vida espiritual – pelo contrário – só violam as Escrituras por acrescentar a elas, são justamente o cerne da religiosidade.
Não à toa Yeshua disse: “E, desde os dias de Yochanan, o Imersor, até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele.” (Matitiyahu/Mateus 11:12)
A violência ao Reino, a tentativa de tomá-lo à força, é exatamente isso: É o homem achando que, pelos próprios esforços de religiosidade, é capaz de forçar a revelação de Elohim a descer dos céus. E ata-se fardos pesados sobre o povo, que cada vez se sente mais e mais culpado por não servir aos mandos e desmandos extra-bíblicos de seus líderes. Por isso, a profecia se calou.
E qual foi a resposta que Mashiach apresentou a isso?
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Matitiyahu/Mateus 11:28-29)
O jugo leve do Mashiach nada mais é do que a pureza das Escrituras. As Escrituras que apontam para Ele, que falam do Seu perdão, do Seu amor, e que nos ensinam o que realmente Elohim exige de nós, em oposição ao que os homens impõem.
Portanto, à Joana, posso dizer: Não, você não está em pecado. Pecado é a transgressão da Torá (1 Jo. 3:4). E a Torá de Elohim jamais determinou tal necessidade de uma “cerimônia religiosa” para “oficializar o sacramento.” Essa exigência vem de Roma, e não do Reino dos Céus. Pelo contrário, quem está em pecado é quem impõe algo sobre o povo, que a Bíblia não diz, e quem profetiza de forma leviana em Nome de Elohim, e fala contra as próprias Escrituras.
Se alguém deseja fazer uma festa de casamento, é livre para fazê-lo (as Escrituras têm vários exemplos delas.) Se quer, além da festa, fazer uma cerimônia religiosa, também é livre para fazê-lo – desde que entenda que não existe sanção do ministro, e que ninguém tem autoridade para casar ninguém, pois o casamento pertence ao casal. Se isso for compreendido, é até saudável uma cerimônia pedindo a bênção de Elohim ao novo casal, ou agradecendo pela oportunidade de estarem juntos. Porém, se alguém deseja simplesmente desposar outrém passando a viver junto, que não seja julgado, pois que direito temos de condenar algo que a Biblia jamais condenou? Elohim poderia ter instituído tal coisa, mas não o fez. Porque para Elohim, o casamento é um compromisso entre o casal.
No Lugar da Religiosidade, a Reponsabilidade Pessoal
Porém, existe um outro lado para essa moeda. A liberdade no Mashiach também traz responsabilidade.
E essa é a responsabilidade que existe: Se alguém vive com outrém maritalmente, biblicamente, está casado. E tem todos os deveres e responsabilidades que a Bíblia coloca sobre o casamento. Não pode, inclusive, divorciar-se salvo nas condições bíblicas (em nosos vídeo da série “Conhecendo o Messias”, falamos sobre isso.)
Com Elohim, não existe “test drive” nem jeitinho. E não é a ausência da palavra de um ministro que deixa de dar legitimidade ao casamento. Portanto, é coisa muito séria.
“Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” (Bereshit/Gênesis 2:24)
Se alguém deseja viver maritalmente com outrém, e construir uma vida em comum, saiba que pelas Escrituras, está se casando perante Elohim. Em termos bem francos: Se você é juntado, amaziado, amigado, mora junto, ou tem qualquer outro tipo de arranjo do gênero, pode fazer seu chá de panela, e receber os parabéns, pois você já está casado, e tem todas as responsabilidades do casamento, biblicamente. Com festa, ou sem festa. Com cerimônia religiosa, ou sem ela. Não importa. A Bíblia é bastante clara.
O jugo de Yeshua é leve, porém a lição que devemos aprender, quando somos libertos da religiosidade, é que cada um tem responsabilidade perante Elohim sobre como vive a sua vida, tendo ciência da Sua revelação bíblica. E não podemos nos esconder atrás de preceitos humanos.

Nenhum comentário: